sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Epifanias que não tive

Passava da meia-noite e eu virava de um lado pra outro da cama e tentava ajeitar o travesseiro. A insônia me incomodava e junto com ela vinha uma ansiedade perturbadora. Desci as escadas, peguei a chave do carro e caminhei com pressa até a porta. Precisava acalmar minha mente e sair aquele quarto sufocante. Enquanto destrancava a porta, ouvi minha mãe me chamando e correndo nos degraus. Ela estava com sua camisola bastante amassada.
- Onde você está indo essa hora?
- Comprar cigarros, não consigo dormir.
- É mentira. Você está indo fumar ‘unzinho’, disse e esperou minha reação.
Ri e falei com convicção.
- Não gosto de maconha.
Não menti. Realmente não sinto prazer algum ao fumar maconha. Maconha não me faria relaxar para conseguir ter uma noite agradável e um sono despreocupado. Obviamente, para ter essa opinião tive que experimentar. E na maioria das vezes, só tive vontade de voltar à normalidade. Fui consumida por sensações horríveis, como o medo,o desespero, a paranóia. A famosa ‘bad trip’ que acontece raramente com as outras pessoas é rotineira pra mim quando se trata de maconha.
A droga mais popular do planeta não me atrai. Isso ás vezes me dá uma raiva. Além de ser barata e de certo modo socialmente aceita, ela parece ser irresistível para várias pessoas com quem convivo. Tenho uma amiga, que também escreve. Ela me contou que consegue escrever páginas brilhantes e ter epifanias depois de alguns tragos. A inveja me invade quando penso nisso. Surtos criativos seriam acessíveis sempre que eu puxasse aquele gosto doce para dentro de meus pulmões.
Lembro-me de outra situação que minha mãe desconfiou que eu tinha contato com maconha. Um dia ela foi procurar sei lá o que em minha gaveta. No meio de livros e papéis amassados, ela encontrou cigarrilhas tipo bali-hai soltos. Para quem não sabe eles são uma espécie de papel marrom enrolado. Minha mãe é daquele tipo clássico, não tem idéia do formato de um baseado, nem da cor, nem do cheiro.
Ela arregalou seus olhos e segurou o cigarro entre os dedos, apontando-o para meu rosto.
- O que é isso?
- Ué, cigarrilhas.
- Isso aqui é maconha, não tente me enganar.
- Mãe, pelo amor de Deus.
Revirei minha bolsa e achei uma caixa com outras cigarrilhas dentro e mostrei a embalagem pra ela. Não sei se a convenci mais pela embalagem ou pela minha cara de indignação.
Apesar de considerar minha mãe inteligente, percebo que ela não conhece partes importantes do mundo em que vive. E nem quer conhecer. Parece às vezes até que ela se orgulha da sua ignorância em certos âmbitos. Um moralismo ridículo permeia seus pontos de vista e suas tomadas de decisão. Sobra inocência, falta malandragem.
E já que não tem jeito de convencê-la de que infelizmente eu não gosto de maconha, estou preparando uma resposta para próxima vez que ela vier com essas desconfianças infundadas e estranhas.
- Isso aqui não é maconha, mãe. É crack.

domingo, 20 de setembro de 2009

Passa da uma hora da manhã. O céu tem uma tonalidade peculiar, uma mistura de alaranjado com cinza. Gosto de descrever as coisas, as situações, as pessoas. Talvez porque seja muito mais fácil que se expor, mostrar a alma, confessar as dores, revelar a angústia de viver. Minhas costas pesam, meu corpo pede um pouquinho de trégua. Mas minha cabeça não obedece. Ela foi sempre assim, ansiosa, com pensamentos intermináveis, loucos, imbecis. Percebo, sem querer, minhas veias expostas e na hora lembro dela: Dolores. Dolores sangra por dentro e por fora. E em cada frase carregada de sentimento que ela despeja sobre mim, eu sinto junto sua agonia. Ouvi os sinos da igreja e pensei em ir até lá pedir pra Deus e para Pedro - o anjo que cuida dela - para lhe trazer um pouco de paz, para deixá-la mais tempo comigo. "Deixá-la mais tempo comigo", que eufemismo. É estranho, eu, que nunca acreditei no tempo e que tenho essa descrença tatuada no corpo, usar essa frase. Retirando o eufemismo anterior: não queria deixar ela se matar. E fodam-se os religiosos, os moralistas e todos os que arregalam os olhos com a a idéia de suicídio. Os indivíduos mais sãos que já conheci são os que já cogitaram, pelo menos uma vez, a idéia de auto-destruição. Mas, o que mais eu poderia fazer, senão rezar, estando a mais de 600 km dela? .Eu não fui até a igreja, preferi rezar em silêncio, afinal, sempre soube: igreja é algo simbólico. Sempre pensei que não era uma pessoa de muita fé, mas hoje me dei conta que era. Não só por Dolores. E não digo fé no sentido religioso, unicamente. Tenho fé nas pessoas. Fé que elas sejam mais compreensivas, menos egoístas, mais sensíveis, menos intolerantes. Acho que é essa maldita fé me fere mais a cada dia. As pessoas não mudam, ou, em casos piores, simplesmente desistem. E eu continuo. Não sei aonde isso pode me levar - certamente não à um lugar bom - mas o futuro é distante demais para ser tratado com importância. Essa fé - ou locura, na minha mais sincera definição - é na maioria das vezes, frustrante. Me sinto impotente, irrelevante, inútil. Mas Não posso culpar as pessoas, muito menos Dolores. Aliás, jamais poderia culpá-la, sendo que sinto tudo junto com ela. Jamais poderia culpá-la porque sei que ela só está a beira do abismo porque ela é exatamente como eu, preocupada, desesperada em salvar o mundo. E ás vezes, olhando pra esse mundo que tanto queremos cuidar, vemos que ninguém nos enxerga. Olhamos e vemos que somos o mais ridículo paradoxo: cheias e vazias ao mesmo tempo. Cheias de toda amargura que as pessoas nos empurram goela abaixo e vazias de nós mesmas. Bebemos até não aguentar mais pra preencher esse espaço que existe dentro de nós. Choramos escondidas, nos entupimos de remédios. Eu surto contigo, Dolores , esqueço da coesão e escrevo em terceira pessoa na minha maneira mais pura de te mostrar que você não está sozinha nesse mundo de merda.

sábado, 19 de setembro de 2009

Foi mais um sábado de almoço forçado, frustrado e terrível. Olhei para frente e o vi falando com seu tom superior e egoísta habitual. As palavras iam saindo da sua boca sem parar e repetidas e eu me perguntava novamente o que estava fazendo ali. Senti vontade de gritar, de fugir, de nunca mais aparecer na sua frente. Senti vontade de chorar, chorar muito, por todas às vezes que me sentei naquela mesma cadeira daquele mesmo restaurante. Senti vontade de chorar de raiva de mim, por ter me tornado exatamente aquilo que eu mais odiava. Senti vontade de chorar me olhar e observar reflexos do que eu não gostava na minha mãe: sua submissão, sua covardia, seu silêncio, seu medo. Senti muitas vontades e não realizei nenhuma. Sanguei por dentro, como de costume. A dor me consumiu, me deixou puta e acabada e mesmo assim eu permaneci ali, atônita. Conviver com ele está me destruindo como nunca. Cada dia ele e
eu damos uma facada juntos em meu estômago. Eu não conseguia ver o amor que um dia já havia sentido por ele. Era só ódio, frustração, angústia. Sentia nojo das suas palavras, do seu jeito, do seu olhar. Sentia nojo de mim, sentindo nojo e ficando calada.
Minha escrita acompanha alguns traços da minha personalidade. Escrevo pouco aqui porque acho certos textos pessoais demais. Tenho um medo burro e imenso de machucar os outros com o que escrevo, assim como tenho com as minhas atitudes. Bukowski deve estar gritando de raiva comigo lá do inferno. Ele disse que há apenas um juiz final do que foi escrito, que é o escritor. Ele tem razão. Assumir isso não é fácil. Mas talvez, revelando as feridas da minha alma fique mais fácil ser um pouco diferente. Sei que esse medo é nocivo pra o que quero da vida - escrever. Assim como é terrível ter que conviver comigo todos os dias com esse altruísmo nada saudável. Queria ter talento pra escrever ficção. Aliás, melhor: queria ter talento pra simplesmente não me importar.

quarta-feira, 29 de julho de 2009

Minhas unhas exibem apenas restos de esmalte preto. Torço para que minha falta de cuidado acarreque-os completamente. Minhas cutículas estão grandes, me incomodam, às vezes até sangram. Estou sozinha no bar, novamente. Acompanhada apenas pela cerveja e pelo maço de cigarro. Talvez não exista melhor companhia. Talvez exista. Na verdade, com certeza existe. Camila seria uma companhia perfeita agora. Não só agora. Camila beberia tanto quanto eu. Camila fumaria mais que eu. Camilia ia gosta da aparência desse boteco onde estou. Fotos antigas, cadeiras pesadas, paredes sujas. Almas solitárias sentadas no balcão - ou o que restou dessas almas. A verdade, Camila sabe: gostamos do nosso estilo de vida. Álcool desenfreado, conversas inúteis, fumando cada cigarro como se fosse o último madrugada adentro. A verdade é que gostamos da verdade, do real. Graças à Camila. questiono menos o motivo do Jefferson beber tanto. Sabemos que ele é infeliz e que encontra nas cervejas de cada dia uma solução, uma cura - mesmo que efêmera - para esse aperto que ele sente o tempo todo no coração. Enquanto escrevia e olhava para o teto, uma mulher de cabelos curtos veio puxar assunto comigo.

- Você está sozinha aí? perguntou com curiosidade.

-Estou sim, respondi meio sem jeito mexendo no cabelo.

-Vai ali sentar na mesa, tomar uma cerveja com a gente!

-Já vou, respondi tentando fingir que não me importava com a pressão.

- O que você está escrevendo? Disse ela arregalando os olhos para perto do meu bloquinho.

- Desabafos, apenas, respondi sem muito esfoço.

Ela me olhou nos olhos e perguntou seriamente:- Você é artista?

Ri e falei com convicção

-Não, não sou nada.

Ela ficou um pouco sem graça, mas insistiu:

-Vai ali tomar a saideira, sério! Daqui a pouco o bar já vai fechar.

-Eu ja vou. Só quero gastar mais um pouco da caneta aqui.

Então ela voltou para sua mesa e seus amigos.

Não tenho cara de artista. Não tenho jeito de artista. Muito menos escrita de artista.Escrevo por mim. Vez ou outra - com todo o eufemismo que me permito - por Camila. Camila me inspira, me move, me envolve, me embriaga com suas palavras. Camila enconta a mais bela descrição para a fumaça disforme do cigarro e para a espuma morta da cerveja. Camila vê além. Além do que o cérebro, o corpo, os objetos e a imaginação permitem. Isso é uma das características que mais me fascina: seu olhar aguçado. Olhar ímpar, insólito, intenso, incompreendido, inesgotável. Olhar sensível, sincero, sólido, sensato, sedutor. Camila é vida em cada letra. Camila é sangue jorrando, veias abertas, osso expostos, pele lasciva. Camila é cigarro aceso, copos esvaziando, frases fluindo. Camila sim que é artista.

terça-feira, 23 de junho de 2009

Ninguém tem paciência com pessoas que bebem. Se eu não bebesse, também não teria paciência. Não ia gostar de ver os indíviduos como realmente são. As pessoas que bebem são as que menos têm limites. Mais uma cerveja e outra e quando se dá conta o dia já amanheceu.Provavelmente, não iremos manter nossos empregos. É bem provável também que não tenhamos renda fixa. Seremos despedidos depois de não conseguimos levantar por culpa da ressaca. Isso senão virarmos a noite tomando a saideira, que jamais será a última. Nossos conjugês reclamarão das vezes que chegamos tarde, por vomitarmos de madrugada e por trocarmos um passeio romântico pelo bar. Bebemos para comemorar alguma conquista ou para esquecermos algum problema que nos aflinge.Fugimos de tudo, de todos. Simplesmente porque, a realidade nos cansa.Quando bebemos conseguimos nos expressar melhor, escrever melhor. Quando bebemos no tranformamos naquela pessoa que a maioria do tempo tentamos reprimir ou ignorar. Falamos o que pensamos, fazemos o que queremos e mandamos a moral pra merda.Dizem que ficamos mais engraçados, mais efusivos e até mesmo mais inteligentes.Inventamos um mundo nosso, sem regras e restrições.Divagamos sobre inutilidades, criamos teorias, aumentamos possibilidades.De fato, não temos limites. Mas existe coisa mais chata que uma vida com limites?Quem bebe quer ir além. Passamos por cima daquele maldito super ego, que insiste em nos tranformar em cidadãos pateticamente normais.A cada gole de cerveja me sinto mais livre. Meus medos são deixados de lado.Conseguimos arrancar da nossa fraca memória cada palavras que queremos dizer.Conseguimos ser nós mesmos, sem ficarmos angustiados pela reação que a sociedade pode vir a ter.Se existe prova que o ser humano pode ser autêntico, essa prova pra mim é o álcool.

sábado, 16 de maio de 2009

O catchup estava vencido, assim como muitos dos alimentos do armário. A geladeira tinha tomates podres e alfaces murchas. A garrafa de refrigerante tinha apenas dois dedos de líquido, os quais estavam sem gás. A cesta tinha pães mofados e bolachas moles. Algumas lâmpadas da casa estavam queimadas. Outras, cobertas por insetos mortos.Os móveis estavam empoeirados. Os banheiros não tinham papel higiênico nem sabonete. E ainda por cima cheiravam mal. Parecia que ninguém se preocupava com aquela casa e é realmente isso que acontecia. Os dias de felicidade dessa casa talvez nunca existam mais. Talvez nunca tenham existido. Sinto frio e não é só porque o chão dessa casa é todo de azulejo. É um frio que vai além do sentimento físico. Não existe mais o calor de ver gente correndo, cachorro brincando, música tocando. A casa fora deixada de lado. Tudo está estragado, desarrumado, abandonado. Em alguns momentos, como agora, me sinto como essa casa. E isso dói.

sexta-feira, 8 de maio de 2009

De mãos dadas com a tecnologia

Estamos completamente conectados. Com a chegada da globalização e da vinda de novas tecnologias, o processo de compartilhamento de informações cresceu de forma explosiva. Se as pessoas ou empresas quiserem informações sobre você, provavelmente irão conseguir. Isso faz com que uma maioria esmagadora reclame e bata o pé na luta por privacidade. Confesso que não gosto muito do que a maioria pensa. E também não concordo com todo esse medo da sociedade em existir virtualmente, Portando, minha proposta é fazê-los pensar sobre os benefícios de vivermos nessa era de super exposição.
Vou começar por uma experiência própria. Decidi passar o ano novo com meus amigos no Rio de Janeiro. Aliás, os convenci. O principal motivo na escolha do destino eu vou contar no próximo parágrafo. Por falta de condições financeiras para encarar a compra de uma passagem de avião para o Rio, optamos por ir de carro e dividir a gasolina. O problema era que nenhum de nós conhecia a estrada e nem mesmo a maneira de chegar até a casa da menina. Se esse problema tivesse ocorrido há meia dúzia de anos atrás, provavelmente teríamos desistido. Mas, felizmente, tínhamos o Google Earth – programa construído a partir de imagens de satélites que permite com que sejam identificadas cidades, estados, rodovias e até mesmo pessoas – como aliado.. Não tivemos dificuldade para sair do Água Verde em Curitiba e encontrar a Rua dos Inválidos, no centro do Rio.
A internet é uma grande estimuladora do contato entre pessoas. Conversamos desde os nossos vizinhos de bairro até moradores do outro lado do mundo. Queixosos dizem que a internet diminui a convivência. No meu caso, ela facilitou e até induziu uma convivência. O motivo da minha viagem ao Rio de Janeiro foi conhecer uma menina que conversava por internet há quatro anos. Mas não era uma menina qualquer. Ela era de fato minha amiga, daquelas que você pode ligar chorando no meio da madrugada. Estaria mentindo se dissesse que não a considero uma das minhas melhores amigas. Nos conhecemos na época dos velhos fotologs. Trocamos MSNs e quando nos demos conta a amizade virtual havia se transformado em uma relação sólida. Obviamente, não foi da noite para o dia. Ela precisou me conquistar revelando interesses, como a literatura e o jornalismo, por exemplo, e contando segredos que a mãe dela nunca sonharia. A amizade faz com que o ser humano cresça em vários aspectos. Não vou citar todos nem me prolongar nesse assunto porque seria meio cansativo. Mas opiniões diferentes e trocas de conhecimento certamente são alguns dos muitos benefícios de uma amizade. Conheci o Rio de Janeiro, gírias e botecos cariocas e uma as pessoas mais interessantes que já passaram pela minha vida graças a uma rede social.
Não vou esquecer também do celular, que já se tornou antigo e banal perto de tantas tecnologias. Minha vó me contou uma vez a história de quando seu pai morreu. Ele havia falecido em Paranaguá e sua irmã e seu marido estavam viajando por algum lugar do país que não me lembro qual era. Minha vó não sabia em qual hotel eles estavam – aliás, ninguém da família sabia - e ela foi encarregada dar a notícia para sua irmã. Desesperada e sem nenhuma forma de ter contato com a irmã, minha vó rezou. No dia do velório, a irmã apareceu misteriosamente lá. A irmã dela disse que tinha recebido uma ligação de uma pessoa anônima no quarto do hotel. A recepcionista do hotel garante que não transferiu nenhuma ligação para o quarto. Minha vó jura que foi uma santa que avisou a irmã. Não sei se acredito. Mas enfim, contei tudo isso para fazê-los perceber o quanto é mais fácil a vida com o celular. Minha vó não precisaria pedir ajuda aos céus caso tivesse ela e a irmã tivessem um celular em mãos.
Vocês devem estar pensando agora: chega de experiências, queremos fatos conhecidos, dados históricos e todas essas coisas que dão credibilidade a um artigo. Então vamos lá. O surgimento dos blogs transformou a internet. O blog permite que os usuários mostrem seu conteúdo para três, 30 ou 300 internautas. Algumas vezes isso pode até virar uma profissão, bastante atual e inspiradora. Edney Souza, mais conhecido no mundo virtual como Interney, abandou seu emprego de gerente de sistemas em 2005 para viver no seu blog. A jogada deu certo. No ano de 2007 o blogueiro faturava com seu site o dobro do salário que tinha como gerente. Esse número deve ter crescido muito mais nos dias de hoje. Edney é celebridade na internet. Seus textos e opiniões influenciam milhares de internautas. O blogueiro acertou em apostar na nova tecnologia.
A internet, em especial o MySpace foi responsável também pela fama da banda Arctic Monkeys. Em meados de 2003 eles começaram a gravar CDs demos e distribuí-los para o público. Porém, não existia grande quantidade de cds. Então, os fãs espertos, copiaram as músicas e as divulgaram. Hoje, a banda é conhecida no mundo inteiro e fatura milhões. Tenho uma amiga que é viciada por música. A internet fez com que ela não precisasse ir atrás de sebos para conseguir ouvir o que quer. Ela ganhou conforto e rapidez: em menos de dez minutos encontra qualquer coisa com apenas um ou dois cliques.
Outro ponto é que o compartilhamento de informações possibilita que sejamos mais seletivos em relação ao que consumimos. Deixamos de comprar certo produto depois que lemos opiniões negativas em alguma comunidade ou fórum. Assistimos a um filme novo, depois que termos uma indicação de alguma pessoa ou site. Podemos, e sem muita dificuldade, até mobilizar grupos de pessoas para boicotarem alguma empresa.
Gostaria de me estender mais sobre esse assunto, mas sei que o espaço do Lona ( jornal da minha faculdade para o qual foi escrito esse artigo) não permite muitas divagações. Só queria que vocês, antes de atirarem pedras nas tecnologias, revissem todos os benefícios que já foram proporcionados por elas. Sem o Google, email, Orkut, Twitter e MSN, teríamos uma vida milhões de vezes mais monótona. Além disso, a vida seria muito mais complicada e trabalhosa. Se com as tecnologias qualquer um pode saber quem é você, e o que você faz, então encontre uma vantagem nisso: Valorize e venda seu produto. Ah, mais uma coisa. Se você gostou desse texto, fique à vontade para visitar sempre o meu blog.

terça-feira, 5 de maio de 2009

o que é verdade, o que é mentira?
os culpados não se assumem por covardia
qual o grande erro em errar?
figuras que se escondem em acusações, deduções e lamentações

quais lágrimas são verdadeiras e não simplesmente por pena de vocês mesmos?
atitudes parecem planejadas, encomendadas para me trazer uma efêmera esperança

o que vocês ganham em me enganar?
talvez um pouco de consolo por terem se tornado o que são

entre justificativas e promessas repetidas busco algum vestígio de sinceridade

segunda-feira, 4 de maio de 2009

Trague o livre arbítrio

O cartaz do filme ‘Coco avant Chanel’, que conta a história da estilista francesa Coco Chanel foi vetado dos ônibus e metrôs de Paris. O motivo: conter a imagem da protagonista - a atriz Audrey Tautou - fumando. A empresa que administra a publicidade nos transportes de Paris considerou o cartaz uma publicidade indireta do tabaco. Como se não bastasse as imagens chocantes atrás dos maços, a proibição de fumar em grande parte dos ambientes fechados e aumento do preço dos cigarros, querem banir a população de ver os grandes ícones na sua verdadeira forma.
Coco Chanel fumava, e muito. O cigarro virou quase um acessório para a estilista. Imaginem o filme ‘Não estou lá’ retratando Bob Dylan sem mastigar seus cigarros. Imaginem a minisérie da Globo, ‘Maysa quando fala o coração’, mostrando a cantora de bossa nova sem seus lindíssimos cigarros com filtro e suas doses uísque. Impossível de se imaginar. Imaginem se fossem divulgadas apenas fotos do ícone James Dean em que ele não estivesse com um cigarro na boca. Dean perderia todo seu charme. Imaginem se resolvessem publicar as obras de Charles Bukowski sem brigas, porres, palavrões, cigarros e tudo mais de politicamente incorreto. Não seria Bukowski.
Aliás, mudando um pouco foco, parece-me que todos os hedonistas já se foram. Isso me entristece. As pessoas de hoje tem pensamentos a longo prazo. Estudar, trabalhar, ter uma boa imagem, vencer. Me veio a cabeça a música do Dead Fish, Sonho médio. Que sonho médio deprimente que estamos vivendo. Onde está o ‘vamos viver tudo que há pra viver, vamos nos permitir, do grande Lulu? Onde está o ‘Live fast, die Young?’
Além do mais, quanto zelo, hein? Estamos rodeados também por pessoas que querem transformar o homem em uma criatura perfeita. Adolf Hitler exigia seres completamente higienizados, inodoros e tinha um repúdio imenso pelo cigarro. As empresas de hoje são simpatizantes as idéias do ditador quando, por exemplo, exigem que, para um profissional ser contratado, ele não deve expor seus defeitos ou não fumar. Isso não é nada menos que discriminação.
Outra questão é que propagandas de cervejas, que causam tanto mal quanto o cigarro, são aceitas em qualquer lugar. E os fast-foods, repletos de gordura e conservantes, que aparecem a cada cinco minutos na TV e diariamente em outdoors? Se o interesse é a tal saúde coletiva, o tal ‘bem estar geral’, porque elas não são censuradas? Que perseguição desmedida ao fumante. Quanta hipocrisia.
Vamos perder o medo de sermos humanos. Vamos abusar do nosso direito de livre-arbítrio, pelo qual lutamos tanto. Livre arbítrio não só de pensar e de ver tudo que há pelo mundo afora. Livre arbítrio de conhecer as grandes obras daqueles que odiavam e daqueles que idolatravam o cigarro. Sem o livre arbítrio perdemos a autonomia de agir de acordo com nossa consciência e certo e errado ou até mesmo sem nenhuma consciência.

sexta-feira, 13 de março de 2009

Minha mãe não me acorda mais. Sinto saudades dela trazendo café, misto quente ou apenas mexendo no meu travesseiro pra me acordar. Depois de um tempo ela desistia e descia para tomar seu café da manhã. Enquanto eu cochilava na cama buscando os últimos minutos de descanso, ela gritava do andar de baixo, 'Gi, são 7:30'. Me lembro de como ela sempre mentia o horário, adiantando os ponteiros do relógio para eu não chegar atrasada na primeira aula. Eu descia as escadas coçando os olhos e em passos lentos. Lá embaixo estava ela de camisola colorida assistindo o jornal da manhã. Quando percebia que eu estava descendo, tirava os olhos da tv e fixava-os em mim. Em seguida, percebendo minha despreocupaçao com o clima, me mandava buscar um casaco. Eu quase nunca obedecia. Preferia sair de mangas curtas. Eu zanzava pela cozinha, tentando adiar mais ainda o horário de aula enquanto ela dividia o pão que estava comendo entre minha cachorrinha e os gatos. As vezes até convidava meu bulldog para entrar e fazia-lhe um carinho na cabeça. Agora sou acordada por um despertador irritante. Quase nunca saio da cama. Quando resolvo levantar, ninguém está esperando por mim. Visto qualquer roupa e me preparo para um dia cinza, bem diferente do colorido que tinha a camisola da minha mãe.

quinta-feira, 12 de março de 2009

Ela tomou um banho demorado. Sentiu cada gota de água que caía em sua cabeça. Colocou uma calça jeans nova e sorriu ao perceber que a calça não estava apertada igual antes. Fez uma maquiagem básica e passou bastante perfume. Olhou-se no espelho e sentiu-se bonita como há tempos não se sentia. Fez um carinho demorado na sua cachorrinha e trancou a porta de casa. Seu carro estava todo arrumado e tinha um cheiro extremamente agradável. Ligou o som e colocou a sua música favorita para tocar. Cantou, gritou, gesticulou como se fosse a própria cantora. Passou na casa da sua amiga e agradeceu mentalmente por ter alguém tão especial sempre perto. Chegando no bar, pediu um balde de cerveja. Apreciou cada gole que levava em sua boca. Acendeu um cigarro e saboreou cada tragada. Ouviu Iggy Pop e prometeu a si mesma que ainda tatuaria 'Lust for life'.