quarta-feira, 24 de março de 2010

Ultimamente não tenho conseguido escrever nada. Ah, que fique claro: entendo por ultimamente os últimos seis meses. Não estava também perto dos livros. Não estou certa de qual foi o último livro que terminei. Talvez Feliz Ano Velho, do Marcelo Rubens Paiva, lá em São Paulo. Esse abismo entre eu e a literatura tem um nome: ansiedade. Incrível como essa sensação tem me dominado toda ordem do meu pensamento, inclusive os mais banais. Aliás, não foi só a escrita e a leitura que ficaram compromeditas, mas toda minha vida. Acho que nunca consegui definir de fato como é a ansiedade. Imagine a pior situação pela qual você já passou na vida. A notícia de que sua mãe estava internada na UTI. O resultado do vestibular que você não passou. O ar falta, o estômago lateja e se revira. O corpo todo sua frio, os músculos ficam duros,o cérebro parece que está prestes a explodir. Mas o que mais me perturba são os pensamentos. Eles são incoerentes, absurdos, intermináveis. Um pensamento vai juntando-se a outro que junta-se a outro e mais outro e mais outro, numa linha confunsa e cheia de ramificações. Qualquer atividade nesse momento parece a mais difícil possível. Tomar banho, pentear o cabelo, comer. Dentro da cabeça, milhões de vozes diferentes gritam. Agora imagine sentir isso todos os dias, desde o momento que você acorda até a hora de (tentar) dormir. Estava (e ainda estou - e pior acho que é uma sentença de que não vou conseguir me livrar) vivendo pra ansiedade. Não conseguia fazer coisas normais, como ver tv, ir pra faculdade, qualquer coisa, porque aquela linha confusa e turbulenta e infinita de pensamentos me perseguia. Não dá pra prestar atenção em nada porque a cabeça está em movimento o tempo inteiro me trazendo informações, teorias, realidade, imaginação, julgamentos, remorsos, dúvidas, suponições, misturando presente passado futuro. Sempre essa combinação nada saudável consumindo minha tranquilidade e impossibilitando minha tentativa de viver como qualquer ser humano."É coisa da sua sua cabeça", me diziam. É, é mesmo. Mas eu não consigo controlar a minha cabeça. Ela não obedece as minhas ordens. Ela entra em labirintos desesperadores e eu simplesmente não consigo sair de lá. Bom, eu não busco compreensão. Minto, busco sim. As pessoas acham que sentir-se assim é uma fraqueza, um modo de chamar atenção, sei lá, algo voluntário, como mexer o braço. Mas não é, por Deus, não é. Minha cabeça tem vida própria. Ela roubou todo meu sossego e minha capacidade de focar-me apenas no presente. Ela me fez vagar por madrugadas, impedindo meu corpo e mente de entrar em alguma espécie de relaxamento. Nunca ninguém conseguiu me deixar tão agoniada quanto ela me deixa. Tirou-me, sem dó algum, meu prazer e distração que eu tinha com as palavras. Nesse tempo reclusa, sequei todos os copos de cerveja lutando acalmar o pensamento, deitei no chão da cozinha e chorei até soluçar. Nas noites, encolhida na cama tentava puxar os pensamentos pra fora da cabeça com as minhas próprias mãos. Na maioria dos dias, os nos piores, só aguentei graças a Camila. Camila me segurou nos braços, me puxou carinhosamente do chão gelado quando eu não tinha forças nem pra sair do lugar. E sem querer, acabei sugando o brilho de sua alma, como um mendigo devora um prato de comida, com voracidade, desespero. Sempre tentei afastar as pessoas quando estava nesse estado trágico. Mas Camila insistiu. Sou como um daqueles dias cinzas e frios em que as árvores estão secas e as flores abandonadas no chão, acabo deprimindo até os mais alegres.

A Camila sempre me pede pra escrever. Ela dizia "escreve nem que seja sobre a sua dificuldade de escrever". Bem, aqui estou.

Como sempre, não sei aonde quero chegar. Eu sou a Giovanna e esse é meu inferno.