segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

Apesar de já ter escurecido, o calor me faz suar. Abro a janela e deixo com que o vento refresque minhas costas. Tenho preguiça de ir até a cozinha buscar um copo de água. Há pouco fui comprar uma carteira de cigarros no posto 24 horas. O atendente estava sentado em uma cadeira e demorou pra perceber minha presença. Antes de sair tive que acalmar minha mãe, que pareceu não acreditar que eu só queria comprar algo pra fumar que fosse literalmente legal. ‘Você só vai comprar cigarro mesmo?’, ela perguntou. ‘Você acha que vou sair pra me suicidar’, respondi com ironia. ‘Acho que você vai fumar maconha’, disse minha mãe com um olhar de preocupação. Tentei não rir, mas não consegui. ‘Maconha me deixa paranóica’, expliquei. Ela pareceu satisfeita com a resposta, então peguei as chaves do carro.
A cidade inteira dorme, ou pelo menos finge. Só escuto o som do apanhador de sonhos que minha mãe colocou a algumas horas na minha janela. Fiquei contente por ela tomar uma atitude após ouvir meus resmungos. Não tenho vontade de dormir e nem inspiração para escrever. Só estou gastando palavras enquanto torço para o sono chegar. Já joguei vídeo game e até xadrez com o computador. Já fiz um teste para descobrir se sou racista e outro para saber se prefiro mais pessoas heterossexuais ou homossexuais. Já apertei algumas espinhas e procurei caspas no meu cabelo. Mordo meus dentes, acendo um cigarro atrás do outro e atualizo sites da internet.
Um vento forte começou de repente e me obrigou a fechar a janela. O apanhador dos sonhos está fazendo plim plim plim, como se fosse um aglomerado de pequenos sinos. Esse barulho se transformou em uma espécie de zumbido desagradável no meu ouvido. Não sou muito supersticiosa e esse objeto pareceu me deixar menos ainda. E pior, ele parece ficar cada vez mais alto por causa do vento. Um alarme de um carro ou casa apareceu para acompanhar o apanhador de sonhos. Resolvo apagar a luz e ligar a luminária numa tentativa de invocar o sono. O vento se intensifica e tira do lugar alguns brinquedos do meu irmão que estavam na parte de fora da minha casa. Perco a paciência com o apanhador de sonhos e o trago para dentro de casa.
Escuto minha mãe roncando e sinto um pouco de cobiça. Enquanto ela está com seus olhos fechados e descansados, eu sinto os meus arderem pela luz do notebook. Preciso piscar varias vezes seguidas para conseguir enxergar. Alguns passarinhos começam a cantar. Vou para o armário e pego o edredon. Daqui a pouco vai chegar a hora de eu lutar cara a cara com o sono. Adio esse momento o máximo possível. Sei que vou virar de um lado para outro setenta vezes e mexer no travesseiro mais umas vinte. A noite não me parece uma criança. Ela se assemelha mais com um monstro ou outra coisa assustadora para quem não consegue dormir.