segunda-feira, 4 de maio de 2009

Trague o livre arbítrio

O cartaz do filme ‘Coco avant Chanel’, que conta a história da estilista francesa Coco Chanel foi vetado dos ônibus e metrôs de Paris. O motivo: conter a imagem da protagonista - a atriz Audrey Tautou - fumando. A empresa que administra a publicidade nos transportes de Paris considerou o cartaz uma publicidade indireta do tabaco. Como se não bastasse as imagens chocantes atrás dos maços, a proibição de fumar em grande parte dos ambientes fechados e aumento do preço dos cigarros, querem banir a população de ver os grandes ícones na sua verdadeira forma.
Coco Chanel fumava, e muito. O cigarro virou quase um acessório para a estilista. Imaginem o filme ‘Não estou lá’ retratando Bob Dylan sem mastigar seus cigarros. Imaginem a minisérie da Globo, ‘Maysa quando fala o coração’, mostrando a cantora de bossa nova sem seus lindíssimos cigarros com filtro e suas doses uísque. Impossível de se imaginar. Imaginem se fossem divulgadas apenas fotos do ícone James Dean em que ele não estivesse com um cigarro na boca. Dean perderia todo seu charme. Imaginem se resolvessem publicar as obras de Charles Bukowski sem brigas, porres, palavrões, cigarros e tudo mais de politicamente incorreto. Não seria Bukowski.
Aliás, mudando um pouco foco, parece-me que todos os hedonistas já se foram. Isso me entristece. As pessoas de hoje tem pensamentos a longo prazo. Estudar, trabalhar, ter uma boa imagem, vencer. Me veio a cabeça a música do Dead Fish, Sonho médio. Que sonho médio deprimente que estamos vivendo. Onde está o ‘vamos viver tudo que há pra viver, vamos nos permitir, do grande Lulu? Onde está o ‘Live fast, die Young?’
Além do mais, quanto zelo, hein? Estamos rodeados também por pessoas que querem transformar o homem em uma criatura perfeita. Adolf Hitler exigia seres completamente higienizados, inodoros e tinha um repúdio imenso pelo cigarro. As empresas de hoje são simpatizantes as idéias do ditador quando, por exemplo, exigem que, para um profissional ser contratado, ele não deve expor seus defeitos ou não fumar. Isso não é nada menos que discriminação.
Outra questão é que propagandas de cervejas, que causam tanto mal quanto o cigarro, são aceitas em qualquer lugar. E os fast-foods, repletos de gordura e conservantes, que aparecem a cada cinco minutos na TV e diariamente em outdoors? Se o interesse é a tal saúde coletiva, o tal ‘bem estar geral’, porque elas não são censuradas? Que perseguição desmedida ao fumante. Quanta hipocrisia.
Vamos perder o medo de sermos humanos. Vamos abusar do nosso direito de livre-arbítrio, pelo qual lutamos tanto. Livre arbítrio não só de pensar e de ver tudo que há pelo mundo afora. Livre arbítrio de conhecer as grandes obras daqueles que odiavam e daqueles que idolatravam o cigarro. Sem o livre arbítrio perdemos a autonomia de agir de acordo com nossa consciência e certo e errado ou até mesmo sem nenhuma consciência.

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