segunda-feira, 5 de julho de 2010

Como é estar viva

Me sinto presa nas minhas roupas, nos meus hábitos, na minha cidade e principalmente, nos meus pensamentos. Eu não sei bem o que é, mas tem algo movimentando constantemente minha cabeça, como aquelas bolinhas prateadas que ficam mexendo eternamente em escritórios. Invejo sensações como: estar boiando numa piscina sem pensar em nada, ver tv sem pensar em nada, dirigir sem pensar em nada. Invejo basicamente todas as situações em que as pessoas não pensam em nada. Pensar em nada, isso é tão raro pra mim. Tudo que vou fazer parece exigir um esforço que não dou conta. Procuro lugares, procuro livros, procura bebidas que me façam não pensar. Imagino, calculo, elaboro, reflito, decifro, refaço, prevejo o futuro. Luto todos o minutos do meu dia contra minha maldita cabeça. Às vezes penso que só pode ter algo de errado comigo. Vejo as pessoas conversando despreocupadamente no bar, comendo despreocupadamente no shopping, tocando violão despreocupadamente. Por que só eu não consigo ficar despreocupada? Sei lá, esquecer o caos do mundo, da família deficiente, das amigas que não entendem, do dinheiro que falta, da profissão incerta, da pobreza, do egoísmo, da tristeza, da dor que não alivia. Fico pensando no resto desse dia terrível, nas horas que não passam, no próximo mes que vai ser igual e nas sensações repetidas do próximo ano que continuarão a perturbar meu peito. Devia ter uma pílula mágica, um tratamento, uma solução. Devia ter uma porra de uma solução para acalmar esses demônios que me incomodam de dia, tarde, noite, madrugada, primavera, verão, outono, inverno. Sossego, é isso que eu anseio. Levantar os pés pra cima e estralar as mãos atras das costas deitada em uma cama macia. Será que é pedir muito? Minha psicóloga chama tudo isso de ansiedade. Seja o nome disso, vai me deixar louca um dia. Falo isso sem nenhum exagero porque minha vontade é arrancar minha cabeça fora. Não vejo como fim da vida mas fim do desespero. De repente, me vejo conjugando o verbo aguentar na primeira pessoa com uma esperança tirada não sei de que parte do meu corpo. Não é muito verdadeiro o que repito, mas eu tento, eu tento eu tento. Tento, mesmo que inutilmente e rezo pra Deus pro Diabo pra quem quer que esteja me ouvindo. Me sinto num poço fundo, escuro e frio gritando com todo ar dos meus pulmoes, batendo insistentemente nas paredes em volta de mim. Esgasgo com meu choro arranco meus cabelos e ninguém me escuta, ninguém vem me buscar. Eu tento subir mas meu corpo está fodido, cansado demais. E também, não conseguiria, a saída é lá longe, mil vezes o meu tamanho. Vejo uma luz, a luz do dia, bem em cima de mim. Ela é brilhante, enérgica, serena, me passa quase algo como tranquilidade. Eu sei que a luz e a saída desse poço onde me encontro existem, por isso fecho os olhos e aperto os punhos e rezo. Rezo e sonho em sair desse lugar claustrofóbico. Minha cabeça é escura, profunda, assustadora igual essse poço. Estou na casa de pessoas que costumavam ser minhas amigas. Todas riem alto, esforçam-se para serem engraçadas enquanto bebo minha cerveja em silêncio. Vou para o banheiro, esfrego as mãos no rosto e fico sentada na privada por um tempo bem maior que o necessário. Estralo meu pescoço e respiro fundo. Meus dentes estão cerrados, meus maxilares latejam. Por que eu não consigo rir e conversar igual elas? Parece tão fácil, tão agradável. Não quero ouvir, não quero falar, não quero ver, não quero sentir. O grande problema (o pior,o mais fodido dos problemas) é que minha cabeça me condena impiedosamente e constantemente para essas malditas situações. Escuto conversas que tive há muito tempo e outras que nem mesmo aconteceram. Onírico e real. Vejo momentos do passado, presente futuro e todos os outros tempos verbais. Falo frases engasgadas, sentimentos reprimidos. Até grito, xingo e reclamo de tudo que não disse nesses 22 anos. Sinto, em excesso, coisas que me reviram o estômago. Minha cabeça revive meus cinco sentidos e mistura da forma mais dolorosa, intensa e crueal ficção e realidade, o que sou e o que quero ser. Como os outros agem e como queria que eles agissem. Como são as situações e como gostaria que fossem. Meus medos ficam tão perto, minhas angústias tão visíveis. Minha fraqueza exposta e pronta para ser explorada, reforçada e intensificada pelo ser humano que mais me machuca: eu mesma. Minha cabeça inventa demônios e assassina deuses. Minha cabeça envenena meu coração. Minha cabeça fode minha alma que é ingênua e persistente e continua procurando no inferno dos meus pensamentos traidores um segundo de paz.

Um comentário:

  1. Quando vc encontra uma solução aqui, vai ter um maldito pensamento te tomando bem ali e qdo talvez algum tipo de paz vc tiver, vai achar que "pasmaceira" não tá legal, alguma coisa tá errada!

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Xingue, grite, jogue confetes.